Temperatura e Humidade são 2 variáveis que devemos ter em atenção para preservar melhor os nossos instrumentos musicais, em especial guitarras acústicas. Este pequeno artigo tentará explicar os cuidados que devemos ter com eles. Vamos dar algumas dicas e alguns exemplos do que devemos (e também não) fazer.
Câmbios Climáticos:
Estas alterações, especialmente as bruscas, são o pior inimigo da nossa guitarra. A combinação de muita humidade e muito calor quase sempre é fatal. Pontes descoladas, tampos e braços desformados e ripas internas soltas são algumas das consequências desta combinação. Contudo, o tempo seco também não é ideal. A madeira encolhe substancialmente quando é desidratada e isto ocasiona distorção das peças, fissuras e rachadelas.
Para protegermos o nosso instrumento devemos evitar os câmbios bruscos de temperatura a todo custo. Com o calor a madeira expande e com o frio contrai, tal como com na humidade, mencionado anteriormente.
Para além de estas contracções e expansões da madeira, que podem não causar males de maior na mesma, vão criando pequenas fissuras no verniz. Isto acontece porque o verniz e a madeira têm diferentes rácios de expansão/contracção. Os vernizes nitro-celulosos são muito sensíveis a este fenómeno. Já vi Gibson’s Les paul com o verniz totalmente danificado por este problema, especialmente por estarem expostas a ambientes muito húmidos no inverno. Em muitos casos, a madeira fica mais exposta e mais vulnerável aos factores climáticos, já que o verniz perde a sua eficácia.
O ideal, quando tivermos de transportar a nossa guitarra para outros locais é que esteja numa caixa, para que a mudança não seja tão drástica. Locais com muita humidade são de evitar: garagens, caves sem ventilação e quartos com filtrações são um perigo para os nossos instrumentos.
Certamente já terão visto guitarras desformadas na zona das juntas entre madeiras. Isto acontece porque os câmbios climáticos podem actuar de maneira diferente em cada peça de madeira, seja porque são diferentes espécies ou pelo tipo de corte que as madeiras tiveram. É notório em muitas guitarras eléctricas ver que a junção de madeiras (no corpo) seja bastante pronunciada. Raramente põe em perigo o instrumento nestes casos, mas esteticamente deixa muito a desejar. Em instrumentos acústicos é uma zona de stress que no futuro pode trazer problemas.
O Inverno-O grande inimigo:
O microclima gerado numa habitação aquecida no Inverno traz algumas desvantagens. Por norma, o ambiente fica mais seco. Recomendamos nestes casos a utilização de humidificadores. Existem vários modelos no mercado. Basicamente são uma esponja humedecida numa embalagem destinada para o propósito. No entanto, temos de nos recordar de recarregar o humidificador, senão terá sido uma perda de dinheiro neste aparelho.
Quando utilizarmos um desumidificador em casa temos de evitar que as guitarras acústicas estejam por perto. Uma guitarra acústica pode ficar desidratada num instante, e quantos mais ciclos de expansão/contracção houverem pior será para o nosso instrumento.
Escusado será dizer que temos de colocar as nossas guitarras longe de qualquer fonte de calor como radiadores, aquecedores, termoventiladores, lareiras e recuperadores de calor.
As guitarras acústicas de contraplacado (laminadas) não sofrem com as fissuras (excepto o verniz) mas há quem diga que quando estão mais secas ficam com pior som, e por conseguinte, humidifica-las é sempre melhor. Pessoalmente não contesto este assunto (Existem muitos mitos que dificilmente podem ser rebatidos no mundo das guitarras)
O calor do Verão:
E quantos de vocês já deixaram a vossa guitarra dentro dum carro numa quente tarde de verão? Acredito piamente que muitos já fizeram isso. Mas é um dos maiores castigos que podemos aplicar a um instrumento. Muitos deles, com a tensão das cordas empenam ligeiramente o braço. Outros, ficam com o tampo irremediavelmente desformado. O resultado é uma acção alta, em alguns casos impossível de tocar. Noutros casos até pode descolar a ponte ou até a escala. Por isso, evitem deixar a vossa guitarra no interior do carro, numa marquise ou directamente ao sol.
Conclusão:
Bons instrumentos, com madeiras devidamente acondicionadas, construídas em empresas devidamente climatizadas serão menos propensos aos câmbios climáticos. Mas não é suficiente. Devemos tomar em consideração todas as dicas indicadas anteriormente, pois ajudará a preservar o vosso instrumento. É uma questão de atitude e de criar hábitos.
Obviamente é de se evitar pensamentos obsessivos. As guitarras são para ser usadas. Se for para coloca-las em biombos de vidro, devidamente pressurizados e climatizados, não nos darão tanto prazer.