Blog, Reparação de Guitarras

Restauro de Viola Braguesa

A Viola Braguesa é um dos instrumentos musicais Portugueses mais conhecidos pelo país fora. É usado largamente em conjuntos tradicionais no nosso país, mas com muita expressão na região Minhota, de onde é originário. Espero que algum dia possam os músicos dar largas à imaginação neste instrumento e torna-lo mais conhecido noutras áreas musicais, e não apenas no Folclore.

Passando ao que interessa…quando recebi fotografias pensei para mim como é que aquele instrumento ainda não tinha ido parar ao caixote do lixo. Acredito piamente que foi um acto sentimentalista que lhe deu a oportunidade de voltar a tocar. E por sorte veio parar em bom porto para efectuar o restauro.

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Não tenho dúvidas que foi um dos instrumentos musicais mais maltratados que tivemos a oportunidade de restaurar. A maioria das peças descolava com pouco esforço, já faltava madeira em algumas áreas, e muitas delas estavam desformadas com a passagem dos anos. Num restauro anterior andaram a aplicar óleos, o que me iria dificultar o processo de colagem.

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Nestes casos costumamos retirar o tampo traseiro. Qualquer defeito relacionado com os cortes e junções ficam para trás (embora não seja frequente). A seguir, descolamos quase todas as varas harmónicas e com suma paciência retiramos a cola antiga. A seguir voltamos a colocar tudo no sítio com a nossa amiga Cola Titebond. Foi um trabalho que demorou alguns dias. Mas feito com paciência ficou mais próximo da perfeição.

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De seguida foi preciso criar alguns remendos para substituir os bocados em falta. Prensamos então as ilhargas ao taco traseiro (que se encontrava num estado lastimoso e que também foi reforçado)

No dia a seguir voltamos a colocar o tampo no seu lugar. Usamos um protótipo de grampos feitos pela nossa equipa (e que estamos a melhorar para que outros luthiers possam usufruir)

Efectuamos um acabamento misto: Tampo encerado e nitroceluloso pelo resto do corpo. Sendo este último mais resistente optamos por ele. Colocamos 2 camadas muito finas, para que estas não interferissem com o som.

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Alguns dias depois iniciamos a montagem do restante material. Sendo este um instrumento muito antigo ainda usava um sistema de afinadores semelhantes ao dos violinos e muitos instrumentos medievais. Decidimos adaptar uns afinadores em ébano para Violino, que com poucas alterações ficaram na perfeição.

Faltava apenas a pestana e o cavalete. Usamos osso (como é costume) na pestana e uma pequena peça feita com madeira de Pereira para o cavalete. Restauramos alguns trastes e colocamos as cordas.

E o resto da tarde foi passado a fazer uma serenata à moda minhota. A viola tinha um sabor doce. Não tão agreste como as violas actuais, que lhe dava um tom mais “medievo”. Fiquei surpreendido com ela.

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E muito bom foi o feedback da dona do instrumento. Que ficou 100% satisfeita por devolver a dignidade a tão belo instrumento.

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