Blog, Reparação de Guitarras

Restaurar Guitarra Portuguesa de 1917

Esta história (como tantas outras) começou por um e-mail. O Rogério indica-me que um amigo dele tem uma guitarra portuguesa para restaurar. Óptimo! Vamos a isso. Para lhe dar um bocado de charme, o homem envia-me umas fotos. No interior da guitarra consegue-se ler 1917. O instrumento parecia-me antigo, mas não tanto. Se calhar 1947 seria mais verídico. No obstante, o meu colega insistiu: ”É mesmo de 1917!”.

Pronto, sendo assim seria um dos instrumentos mais antigos que já tive a oportunidade de restaurar. Um bocado de história nas minhas mãos.

Os trabalhos a efectuar seriam os seguintes:

Restaurar o tampo radicalmente, teríamos de tapar as inúmeras rachadelas (especialmente na zona da roseta) o qual nos deu bastante trabalho, dado que algumas delas estavam bastante abertas, tendo de as preencher com madeira laminada. Algumas pessoas com pouca experiência em madeira poderiam pensar que bastava prensar o instrumento e colá-lo, mas não. Isso pode ter mau resultado. A madeira tem memória. Ela vai tentar abrir novamente, seja pelo mesmo sítio ou criando uma nova fenda.

Depois de remover a sujidade procedermos à limpeza e encerado do mesmo. Foi de enorme satisfação para mim voltar a dar vida aquele tampo.

Próximo passo foi restaurar o resto do corpo com um envernizado de goma-laca e uma limpeza geral. Com isto, podíamos proteger as áreas de madeira que já não possuíam verniz.

Limpeza e lubrificação das partes metálicas, em especial do leque. Vejam na foto no estado lamentável em que se encontrava:

Fizemos um cavalete novo, dado que o original tinha desaparecido. Para não sair tão dispendioso, decidi comprar um cavalete “pré-fabricado” e dar-lhe uns retoques.

Colocámos as cordas e afinamos a guitarra. Para mim, é sempre um trabalho incómodo ter de fazer os lacetes a este género de instrumento divagando (e navegando) pela internet encontrei a solução para o meu problema…um alicate com um gancho giratório. Mais uma ferramenta interessante para eu fazer!

http://www.jose-lucio.com/Alicate/cordas.htm

Finalmente marquei encontro com o verdadeiro dono da guitarra. Era uma manhã enevoada no coração da cidade invicta. Mas foi animador ver a satisfação do homem ao ver a sua guitarra.

Era mesmo isto que eu queria! – Disse-o várias vezes – Nota-se que está restaurada, mas mantém as cores e aparência original do instrumento…

Para mim, só podia ser desta forma. Uma guitarra desta idade tem o direito de mostrar a sua beleza mediante a idade.

Alterá-la seria um crime.

16 thoughts on “Restaurar Guitarra Portuguesa de 1917

  1. Rogério diz:

    Tal como prometido cá está o post da velhinha, obrigado Zé foi um trabalho digno de um mestre e que não podia ir parar ás mãos erradas, ainda bem que o Zé Bernardo (dono da guitarra) ficou satisfeito com o restauro e ainda bem que (como habitualmente) te deu gozo este trabalho.

    Um Abraço

    1. Esta deu gozo… e foi uma grande honra tê-la reparado.
      Obrigado por te teres lembrado de mim para fazer este trabalho!
      E já agora…lembraste como estava antes da reparação? Nota-se que levou uma grande transformação?

    2. Caramba!!! Hoje todos comentam a história da Avozinha…
      Fico muito contente José por ter gostado do trabalho.

  2. José Bernardo diz:

    Realmente foi um trabalho bem feito.
    Fiquei muito contente com o resultado, o que menos queria era desvirtuar a guitarra e queria manter o aspecto que os anos lhe deram.

    Um abraço

  3. Francisco diz:

    Tenho uma Guitarra Portuguesa da Guitarraria António Victor Vieira que tem no selo o ano de 1917, no entanto esta guitarra não possui o leque e tem a extremidade do braço partida e tambem lateralmente na caixa está partida. No entanto como se trata de um intrumento bastante antigo, pretendia saber se será possivel a sua recuperação.

    Obrigado

    1. Respondido via mensagem pessoal.

  4. Ana Paula Gama diz:

    Boa noite,
    Tenho uma Guitarra Portuguesa da Santos Beirão, Lda (segundo consta no selo), não sei qual o ano mas, seguramente, tem mais de 40 anos. A guitarra encontra-se um bocado danificada, o leque tem alguns parafusos empenados e enferrujados. O tampo tem algumas rachadelas, na zona da roseta e na lateral.
    Esta guitarra tem para mim um grande valor, apesar de não ter sido bem estimada ao longo dos anos, gostaria saber se será possivel a sua recuperação.
    Obrigada,
    Ana Paula

    1. admin diz:

      Respondido via e-mail.

  5. Jose Ribeiro diz:

    Tenho uma guitarra com selo de António Victor Vieira a precisar de restauro.
    O tampo tem algumas rachas e a descolar, o carrilhão está em bom estado, o cavalete precisa de ser endireitado, o braço está em bom estado.
    Será que tem disponibilidade para a ver?

    1. admin diz:

      Boas Sr José.
      Sim, basta marcar um dia ou enviar fotografias para o nosso mail.

  6. Joaquim Fernandes diz:

    Boa noite. Este texto fala em instrumentos, cordofones, com idades de 100 e mais anos. O grande problema destes instrumentos é, e como o meu amigo José Lúcio afirma, e é verdade, nos seus sábios escritos sobre a matéria, a cola com que estes cordofones foram colados aquando da sua construção, O GRUDE. Era a cola que dispunham na época. Feita à base de farinha de trigo e vinagre, na sua base e cada construtor adicionava ingredientes, mais ou menos secretos, que ajudavam a que o instrumento ficasse bem colado. Eram espinhas e peles de bacalhau e demais peixes, claras de ovo e outras, que como o povo diz: “não lembrava ao diabo”. Eu falo no meu Sr. José Lúcio porque é um conhecido expert na matéria de reconstrução de instrumentos, pois privou com os melhores construtores portugueses de há muitas décadas. (No seu site fez-me um agradecimento público por eu lhe ter disponibilizado a localização de 3 cancioneiros muito antigos). Tive grande ajuda do José Lúcio quando necessitei de alguns conselhos para a reconstrução de um bandolim com, à volta de, 100 anos e ao qual me aconselhou a descolá-lo todo e fazer a recolagem com cola própria. E foi o que fiz! Quando o descolei lá encontrei a malfadada cola de Grude. Tenho fotos de todas as fases da reconstrução. Se necessitarem posso enviá-las. Cumprimentos

    1. admin diz:

      Obrigado pelo seu comentário!

  7. Joaquim Fernandes diz:

    Ah! esqueci-me de uma frase que José Lúcio diz muitas vezes e que tem razão ” Todos é que sabemos tudo”
    http://www.jose-lucio.com/Cancioneiro/Cancioneiro.htm

  8. Miguel Ferreira diz:

    Bom dia
    Tenho um bandolim do fabricante Antonio Victor Vieira de 1913 com o número 718 e gostaria que visse a peça e me desse uma opinião sobre a mesma.
    Obrigado

    1. admin diz:

      Obrigado pelo seu contacto.
      Basta marcarmos um dia para ver.
      Use os nossos contactos para tal.
      Cump.

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