Restaurando um baixo Egmond
Há 2-3 meses atrás tivemos a visita de um professor de arqueologia, que num “achado quase arqueológico” encontrou um Baixo Egmond da década de 60. Era um modelo Archtop com a tradicional junção das guitarras Egmond (1 mola e 2 parafusos) enfim, algo raro de se encontrar nos nossos dias.
A relíquia foi encontrada num antiquário numa localidade alentejana. O baixo estava em muito mau estado, mas sabendo a história do mesmo, o homem arriscou trazer o artigo. É que até trazia a caixa de cartão e a correia de origem.
O baixo em questão estava muito sujo, o tampo estava sumamente desformado pela tensão das cordas, o braço parecia um arco. Alguém teve a ousadia de querer colar o braço ao corpo e fez um “péssimo serviço”. Enfim, a definição mais acertada para tal era a de “lenha”.
Quando vi o instrumento estive quase a recusar o serviço, mas não consigo imaginar um instrumento com esta idade “abandonado ao seu destino” e por isso aceitei o trabalho com uma condição: “Nada de pressas….”
Em primeiro lugar tínhamos de resolver o problema do tampo, a deformação era muito acentuada e só tínhamos hipóteses de a corrigir aplicando umas ripas no interior do baixo. Decidimos então abrir a caixa com umas lâminas muito afiadas e com a ajuda da nossa mini-dozuki.
Depois definimos onde iríamos colocar o par de ripas que voltariam a dar forma ao tampo. Neste caso estive mais preocupado no facto estético , no caso duma guitarra acústica não seria bem assim…
Com isto obtivemos novamente uma curva satisfatória e um reforço contra eventuais “empenos”. Aplicamos também um pequeno taco sob o parafuso do braço.
Uma pequena segurança…
A seguir aplicamos o tampo novamente no seu lugar e restauramos os cantos. Ainda que o trabalho corresse bem, é habitual haver alguma falta de tinta ou alguma disparidade entre o tampo e as ilhargas.
A pedido do cliente efetuamos um restauro geral de pintura. Algo que protegesse o instrumento sem lhe retirar aquele look vintage. Para tal, nada melhor do que o verniz nitro-celuloso.
No braço tivemos sérias complicações, mas nada que não conseguisse ter solução. Com suma paciência teríamos de desempenar o braço. È uma operação que requer calor e humidade. É algo que não recomendo aos amadores, sob pena de danificar o verniz e até a própria madeira.
No obstante, a escala estava muito irregular e foi preciso nivelar a própria madeira. Para tal, tivemos de efetuar um refret.
Durante o refret aconteceu o inesperado. A escala descolou com os golpes de martelo. Bem, lá tivemos de usar mais grampos para colocar o “gajo” no sítio.
Como referi anteriormente, o sistema de encaixe de Egmond era muito “sui generis” e com as colagens de algum habilidoso tornou-se um autêntico pesadelo ajustar o instrumento.
Mais uma vez uma boa dose de paciência resolveu tudo…..
Finalmente demos por concluido o trabalho deste instrumento. Foram aproximadamente 40horas de trabalho (muitas delas aborrecidas) mas com o instrumento concluído, isso deixou de ter importância.
invejo-te a paciência mas admiro o trabalho 🙂 muito bem! Deve ter sido um gozo enorme ouvir esse bichinho a mandar som outra vez.
Obrigado pelas suas palavras!
Por acaso gostei do seu blog 😉
É o meu baixo! ;)) Ficou óptimo.
Obrigado Sergio pela confiança!
Parabéns ao dono dessa preciosidade e ao Luthier pelo excelente trabalho!
Muito Obrigado!
ola amigo tenho uma grande duvida queria saber se voce poderia me dizer se uma guitarra egmond é de boa qualidade mesmo,,,até mesmo comparando ela com uma fender mexico ou algo do tipo para termos uma base de até mesmo valor de uma guitarra egmond….grande abraço
Boas.
Quando as Egmond saíram eram guitarra de baixo preço e pouca qualidade. Um dos seus pontos negativos é mesmo a junção de braço/corpo, que com um parafuso e uma mola eram péssimos para a transmissão do som entre estas 2 peças.
Contudo, pelo valor histórico e único tem atingido preço de peças de coleção e tem sido adquiridas por muitos colecionadores.
Impossível comparar com uma Fender, mas sim com muitas guitarras europeias que saíram na altura.