Guitarra Maya transformada em Gibson

Esta é uma daquelas histórias que seria mais provável de ler em contos infantis… Com uma fada boa e uma varinha de condão incluída. Mas como nestas bandas não temos varinhas de condão, tivemos de usar algumas ferramentas para efectuar esta transformação.

Tudo começou quando recebemos na nossa loja online um pedido de um pickguard mais respectivo suporte. Depois de umas trocas de email já resolvemos aumentar a parada: mais uns aros para pickup e uns inlays em madrepérola para um LP Custom.

Neste email já orçamentamos a colocação dos respectivos inlays.

Mas entre mais trocas de email (e até trocas de guitarras por parte do nosso cliente) calhou-nos nas mãos uma ES 335 da marca “El Maya”.

A guitarra era fantástica segundo o dono. Com um braço confortável e um som espectacular faziam dela “A guitarra perfeita”. Contudo a estética não era a preferida. Ele gostava que fosse mais parecida com as Gibson ES 335 do ano 68.

Não me perguntem o porquê desse ano, pois nem sequer lhe perguntei…

Para efectuar este trabalho teríamos de:

1º Alterar o logo e a coroa da guitarra por um de madrepérola.

2º Substituir os aros dos pickups por uns mais curtos (os originais eram anormalmente compridos)

3º Substituir o pickguard por um da Allpart´s.

4º Alterar o formato do headstock pelo “Open Book” da Gibson.

5º Alguns botões e finalmente uma ponte “Gibson” genuína.

Bem… tínhamos bastante trabalho pela frente.

Começamos pelo headstock, que seria o trabalho mais demorado.

Marcamos então a área onde iria encaixar o logo em Madrepérola e retiramos o excedente com uma mini-tupia. Neste tipo de serviços, a mini-tupia é uma ferramenta essencial. É difícil imaginar o trabalho que seria efetuar este serviço sem esta valiosa ferramenta.

A seguir colamos as peças com Epoxi (que lhe adicionamos corante negro) e deixamos secar com prensas manuais. No dia seguinte presenciamos com espanto que tínhamos apertado demasiado e uma parte das letras tinha partido.

Sinceramente, Isto não volta a acontecer.

Com estes nunca partirei Madre-Pérola…

Depois vem a parte mais incómoda deste trabalho: Preencher as falhas e as ranhuras das letras. E óbvio que não podem ficar várias tonalidades de negro, por isso, têm de ter a certeza de que a massa de preenchimento não fica ao mesmo nível da madrepérola. Esse espaço será preenchido pela tinta negra (recordem-se que estamos a falar em “décimas de milímetro”.

Depois de tudo seco e lixado demos início a pintura, mas a meio do processo nos lembramos da alteração do headstock.

Para tal recorremos a fotografias de um headstock do ano 68 (não julguem que todos os headstock´s da Gibson são iguais!) Copiamos o nosso headstock com ajuda do Coreldraw e uma serra de fita.

Outra situação a resolver seria colocar a cor da guitarra igual na área recortada. Eu pessoalmente tinha sérias dúvidas em conseguir, dado que o corante vermelho que utilizo costuma ser bastante carregado. Para ultrapassar este inconveniente optei por camadas de cor muito leves. Apliquei como 7 camadas de verniz para conseguir a cor desejada, mas a ideia foi tão boa que ninguém acreditaria que aquilo tinha sido repintado. Ficou perfeito!

Finalmente substituímos os restantes acessórios desta “El Maya”, que quase como por arte de magia, transformou-se numa Gibson. Contudo, adverti ao dono para não a vender como se fosse uma Gibson, evitando assim problemas com a justiça.

Recordem: Vender Gato por Lebre é Crime…