Blog, Reparação de Guitarras

Guitarra de 12 cordas Estalada

A maioria das guitarras que por cá passam não me tira o sono em matéria de reparações. Mas esta, de cada vez que me lembro dela me causa arrepios.

Tive um amigo que conseguiu uma “Eko Ranger” de 12 cordas a um preço bastante modesto. Obviamente existia um senão (o braço estava totalmente estalado e com fraturas bastante alongadas). Acho sinceramente que foi um dos casos mais complexos que tive até hoje…

Outro pormenor a destacar é que os afinadores estavam totalmente desgastados, enferrujados e já não mantinham a afinação. Resolvemos então procurar um material que se ajustasse na perfeição e embora fosse uma tarefa bastante difícil (dado ser uma guitarra de 12 cordas) conseguimos algo perfeito. Tivemos de comprar 2 jogos 3×3 de afinadores, desmontá-las e aplicar na chapa dos afinadores da Eko J

Desmontamos o braço, retiramos a quantidade ridícula de fita-cola, e depois de uma séria inspeção, questionei-me:

Porque C@r#º! aceitei este serviço?!?

Bem, agora não valia a pena lamentar-se. O ideal seria construir um braço novo, mas seria demasiado fora do orçamento. Por isso, toca a remendar.

Para poder resolver melhor o problema separamos a escala do braço. È um trabalho moroso, mas era imprescindível, dado o formato dos golpes era impossível aplicar as tradicionais barras de aço. Optei por abrir 2 sulcos com a tupia e aplicar 2 ripas de madeira como reforço. Para além disso, decidi usar um método mais arcaico: pregos em algumas zonas estratégicas.

Tudo isto colado com cianoacrilatos, pois esta cola costuma entranhar nas fendas mais finas. Não podia dar-me ao luxo de deixar algum pormenor. Uma guitarra de 12 cordas exerce uma força bárbara sobre o braço…

Finalmente pintamos a guitarra com esmalte colorido e enceramos com verniz pigmentado. Isto deu-lhe uma coloração de guitarra “acústica”.

Montamos a guitarra e afinamos a cordas. Tudo bem…mas depois de algumas horas o verniz começou a ficar marcado nas zonas das fissuras. O meu coração ficou aos pulos e o suor frio escorreu-me da testa: Oh raios!!!

Mas depois de alguns testes e uma semana de análise conclui que estas marcas no verniz se deviam a flexibilidade do próprio braço e não porque o braço não aguentasse a tensão das cordas.

Esta flexibilidade era quase impossível de eliminar, a fratura e a força das cordas não ajudavam em nada.

Por isso posso passar o atestado de garantia (mas ainda de noite tenho alguns pesadelos com guitarras de 12 cordas)

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