Entrevista com o Ze Aguiar
Sem dúvida foi uma das entrevistas mais interessante e amenas que tivemos desde que iniciamos o nosso ciclo de entrevistas. A humanindade e o à vontade da personagem nos faz sentir que entrevistamos “um velho amigo”.
No final fomos premiados com uma Jam Session com um dos melhores baixistas do nosso País. Nada mais e nada menos que com o conhecido Zé Aguiar…
Fala-nos um pouco sobre ti, Como começaste no mundo das guitarras? Quais são os teus maiores logros?
Comecei nos anos 80 com uma banda chamada Roxigénio. Depois toquei com o Paulo Gonzo nos Go-Gral-Blues-Band. Seguindo o meu percurso comecei por dar aulas em institutos e escolas de música, até formar a minha própria escola. E nomeadamente entrar nos Tarântula, onde iniciei a minha carreia em 1994. Desde esse tempo já gravamos como 7-8 álbuns, se não estou em erro. E já participamos em gravações de beneficência para angariar fundos para África (Em Alemanha) Isto para falar no bem que se faz pelo planeta.
Para além disso, participo activamente no projecto a solo do Paulo Barros.
A pergunta de praxe….Quem são os teus heróis das 4 cordas (ou 5 ou 6, dependendo do baixo)?
O meu maior ídolo é o Jaco Pastorius, um grande músico e grande ser humano. O Billy Sheehan o Victor Wooten. Em fim, esses monstros todos que nos incitam a mexer mais nas cordas.
Podes falar-nos um pouco sobre o teu gear? Amps, Pedais, Racks, Cabos.
Comecei por usar Ampeg. Que na gíria o baptizamos como “O Amplificador” Depois experimentei os Mesa Boogie, qual gostei imenso, e actualmente sou “Endoser” desta marca. Como podes ver temos cá o Pulse 360. Ligada ao amp, costumo usar uma pedaleira BOSS GT6 B. Mas apenas uso 2-3 efeitos, não utilizo mais do que isso.
E os teus Baixos…quais são?
Em relação aos baixos, Já usei Fender, já usei Yamaha. Dos quais tem baixos soberbos, Contudo, afeiçoei-me ao Warwick, dos quais são “endoser”, ao ponto de me oferecerem entrar para os catálogos (se bem que ainda não enviei para lá as fotos) E sou fanático de outras marca como os Baixos Sadowsky, os Fodera e obviamente que os clássicos da Fender.
E que Pickups costumas usar?
Em relação aos Pickups uso sempre os que vêm incluídos no Baixos. Haverá baixistas que o façam por uma questão de experimentação. Mas normalmente quando compramos um baixo vem com uns pickups (salvo seja) desenhados para aquele instrumento, com uma sonoridade que o identifica.
Se tivesses de escolher única e exclusivamente 3 pedais do teu arsenal quais seriam e porque?
Como já te apercebeste só uso a pedaleira. Mas tenho o Looper da BOSS, que em vez de efeitos uso mais para as aulas.
Que tipo cordas utilizas? Uma pergunta absurda: as palhetas? Usas diferentes afinações?
As cordas que utilizo normalmente são as Warwick. Gosto do seu timbre.
Em relação as palhetas (risada geral) Toda a gente sabe que adoro tocar com os dedos, mas houve um caso caricato na gravação do último álbum. O nosso produtor sugeriu-me usar uma palheta num dos temas para conseguir o som do “Picking”. Por isso andei a treinar toda a semana de palheta. Fosse no estúdio, nos hotéis…E acabei por gravar mais do que um tema de palheta. Depois de trinta e tal anos lá teve de ser!
Uso sempre a afinação Standard. Contudo, para procurar outras notas uso os Baixos de 5 ou de 6 cordas. Já me desafiaram tocar num baixo de 12 cordas, mas achei uma coisa “Maluca”, mas será objectivo para um dia qualquer…
Qual é a acção que usas nos teus Baixos? És muito exigente em relação ao ajuste dos teus instrumentos?
De facto sou, mas por norma tento encontrar um equilíbrio entre a precisão e a altura. Gosto das cordas baixas, mas tem de ter uma certa altitude para que na hora de usar “Slaps” consiga ter aquele “ataque”; sentir a percussão.
Mas mais exigente sou na afinação do instrumento. Quando vejo um instrumento, seja meu ou de algum aluno, que esteja descalibrado, faço logo uma barulheira. O meu ouvido está tão treinado que fico logo irritado com essa situação.
Tens algum patrocínio? Como o conseguiste?
Trabalho com a Warwick, com a Castanheira, que tem sido impecáveis para mim; com a Mesa Boogie. E pouco mais…
Que conselhos podes dar aos baixistas portugueses para que possam evoluir musicalmente? (técnica e metodicamente)
Só peço aos nossos baixistas que tenham consciência de que este não é um instrumento para ser usado de “ânimo leve”. O Baixo é um instrumento muito rico; seja no Ritmo; Solo ou na Harmonia. Estudem o instrumento de uma forma coerente. Procurem bons profissionais no campo da didáctica para que vos levem a encontrar o valor deste instrumento.
Lembrem-se de encontrar um bom baterista ou percussionista para o vosso grupo. A sessão rítmica é a base da banda, e sem os 2 a trabalharem numa excelente equipa a “banda anda de lado”.
Que achas do mercado musical Português? Consideras que existe espaço para os “Baixistas”?
O mercado Portugûes?!? Hummm… acho que está viciado. Já há muitos anos. Digo-o com muita mágoa, mas este mercado foi-se arrastando e adaptando a certos interesses.
Já no meu tempo houveram pessoas que se posicionaram bem no mercado e dai fizeram a sua fonte de rendimento, secando outros projectos e manipulando quem entra no mercado. Não vou citar nomes, mas indico que está plantada uma certa “mediocridade organizada” em Portugal que faz girar isto.
No entanto, estamos aqui para abrir caminho, e os mais velhos têm o dever de abrir caminho para os mais novos. É difícil, pois temos certas tradições medíocres, como a falta de abertura, musicalmente temos poucas perspectivas… mas sem luta não há nada.
Podes falar-nos um pouco sobre os teus projectos presentes e futuros?
Estou a criar um projecto de fusão (embora continue a gostar muito de Heavy Metal) num trio no qual me inspiro em Jaco Pastorius. Espero em breve estar ai a tocar, algo muito íntimo, nada de subliminar. Apenas será pelo gosto na música e para dar o meu contributo a este maravilhoso instrumento que é o Baixo eléctrico.
Continuarei a dar suporte aos Tarântula e ao projecto a solo de Paulo Barros, alguém que se fosse noutro país já teria inúmeros prémios pela sua dedicação.