Outubro de 2011, sábado de manhã. Fazia um calor fora do normal para esta época do ano. Mas isso não era algo que considerasse fora do normal. O que me deixou admirado nesse dia é que até que em fim o grandioso Paulo Barros conseguiu um tempinho para dedicar-nos a nosso entrevista.
Foi conhecido durante anos como o melhor guitarrista português. Integrante do “Tarântula” e do seu projecto à solo destaca-se por ter uns dedos muito rápidos. No obstante, mais do que a velocidade dos seus dedos admiro-o por ser um pioneiro no mundo das Guitarras/Heavy Metal e possuir uma personalidade muito humana.
Fala-nos um pouco sobre ti, Como começaste no mundo das guitarras? Quais foram os pontos altos da tua carreira?
Bem comecei a tocar guitarra com aproximadamente 14 anos. Iniciei-me com uma guitarra acústica muito má. Mesmo muito fraca…
Passado 2 anos comprei a minha primeira guitarra eléctrica. Uma Ibanez, usada. Custou 2500 escudos (12.50€ em moeda actual) a um músico profissional que morava aqui perto de minha casa. Como não havia dinheiro para o amplificador, eu ligava a guitarra a um gira-discos (mais propriamente a uma aparelhagem compacta). E já trazia distorção incluída…pois de por si já distorcia. (risos)
Toda a gente sabe que toco nos Tarântula e que tenho o meu projecto a solo. Para além de ter o Rec’n’Roll Studio e dar aulas de guitarra.
Acho que os momentos altos nestes 2 projectos foram fazer as aberturas de Deep Purple, Manowar, Symphony X e muitas outras. Na carreira a solo adorei tocar com a guitarrista do Michael Jackson: Jennifer Batten. Partilhar um workshop com o Michael Angelo Batio. E tocar com o Slash e o Joe Satriani.
A pergunta de praxe….Quem são os teus heróis das 6 cordas?
Herois de 6 cordas….Epa! Eu tenho milhões de heróis de 6 cordas. Humm, até uma pergunta difícil de responder concretamente. Quando miúdo, deixei-me influenciar pelo Ritchie Blackmore dos Deep Purple, O Tony Iommy dos Black Sabbath e Jimmy Page dos Led Zeppelin. Foram os primeiros gurus que a gente teve. Nos anos 80 foram o George Lynch, o Yngwie Malmsteen, o Tony Macalpine, e Vinnie Moore. Etc, Etc…
Também temos grandes guitarristas em Portugal de que gosto muito, como o Luís Moreno e o Gonçalo Pereira, e mais umas dezenas…
Podes falar-nos um pouco sobre o teu gear? Amps, Pedais, Racks, Cabos…
Nos amplificadores uso um Mesa Boogie Power Amp e um amplificador Rocktron não valvulado. Também uso um sistema híbrido em que uso válvulas e transistors nos sons limpos. Uso preamps à válvulas da Rocktron – O Piranha, o Voodoo Valve – também uso um Harmonizer da Rocktron (ironicamente não faço endosement da Rocktron)
Em efeitos uso um processador de reverbs da Alesis, o Quadraverb. E Um Roland antiguíssimo, o GP-8 para outros efeitos, como os filtros, Wahs e advirto que os chorus da Roland são muito bons.
E as tuas guitarras…quais são? Qual delas é a tua preferida?
Como sabes tenho cá uma boa quantidade de guitarras, muitas delas de estimação. Mas para ser sincero a guitarra que eu mais uso ao vivo até é uma Line 6 Variax, porque? Porque sendo digital tenho na mão uma guitarra acústica, uma de 12 cordas, banjos, violinos, etc. (risos) É ideal para trabalhar em Musicais ou grupos de música ligeira. A nível de gravação só a usaria para gravar acústicas.
Na parte eléctrica costumo usar Bryan Moore, ESP, Valley Art. São as minhas guitarras de guerra. Embora tenha por cá muita coisa para tocar…
Nas tuas guitarras, que Pickups costumas usar?
Tenho varias configurações de Pickups, entre elas a mais usada é a da Malagoli: RL- Legacy e o OOO (que foi feito para mim). Tenho estes pickups instalados em várias guitarras. E também gosto de usar o Seymour Duncan JB e o George Lynch (Screamin Demon)
Que tipo cordas utilizas? E as palhetas? Usas diferentes afinações?
Nos Tarântula tenho 3 tipos de afinações. A afinação normal, que costumo usar 0.9-0.42. O Drop D com 0.9-0.46. E depois uso o Drop C em que uso 0.11-0.52.
Nas palhetas não sou muito esquisito, desde que seja de 1.2mm até 3mm.
Qual é a acção que usas nas tuas guitarras? És muito exigente em relação ao ajuste dos teus instrumentos?
Preocupo-me bastante com que as guitarras estejam bem ajustadas a nível de afinação. Seja cá encima ou nos últimos trastes. Gosto de ouvir a guitarra afinadinha.
Para além disso preocupo-me bastante com a distância das cordas. Sou um bocado preguiçoso e gosto de ter as cordas bastante juntas, às vezes até trastejar, quando se trata de Heavy Metal. Assim consigo maiores velocidades.
Quando se trata de canais limpos ou de outros géneros, como música ligeira, prefiro então sacrificar um bocado a preguiça e ter uma acção mais alta, mas que me garanta um som limpo e com sustain.
Tens algum patrocínio? Como o conseguiste?
Tenha bastantes até. Tenho com a Crate, nas colunas Vintage. Tenho com a Mesa Boogie, a Line 6 e os Pickups Malagoli.
Já tive patrocínio da ESP nos anos 80, mas depois que eles fecharam a representação em Portugal fiquei sem ele. Tive também com a Brian Moore e outras marcas de guitarras.
Que conselhos podes dar aos guitarristas portugueses para que possam evoluir musicalmente? (técnica e metodicamente)
Metodologia, ora falaste bem! É isso que falta por ai. Não é que a técnica não seja importante, mas a metodologia está em carência.
Uma coisa que me anda a irritar imenso são estes “Guitarristas da Internet”. Defino com este nome àqueles que andam pela net à procura de solos para clonar. E acho que este não é o caminho.
Vou-te dar um exemplo: Em 1993 a Jennifer Batten disse-me que segundo um estudo da revista Guitar Player haveria em Estados Unidos aproximadamente 24 milhões de bons guitarristas. Desses 24 milhões havia meio milhão com uma técnica assombrosa. Ou seja, de 0 a 20 tinham nota máxima. Mas que desse meio milhão, apenas uns 40 é que eventualmente se podiam destacar dos outros. O resto são cópias.
O que recomendo hoje em dia (ainda que tudo já tenha sido inventado) é que cada um de nós procure os seus toques pessoais, até os seus próprios defeitos para ser diferente da restante massa.
Que achas do mercado musical Português? Consideras que existe espaço para os “Guitarristas”?
Bem, até posso dar continuidade a pergunta anterior para responder esta. Quando fui convidado para tocar na Feira de Frankfurt em 1992, reparei que havia mais pessoas a assistir ao meu espectáculo do que no stand de Steve Vai. E porque? Porque toda a gente já está farta de saber o que toca Steve Vai. Eu como português acabei por ter trunfos. Há sempre curiosidade pelo exotismo e pelas diferenças de um país desconhecido. E é isto que temos de aproveitar.
Sei que muitos responderiam a esta pergunta com negativismo. Mas eu acho que temos de ser positivos e aproveitar as nossas raízes, as virtudes, as “sucatices ou aldrabices”, chamem-lhe como quiserem. Mas com estes ingredientes acabamos por ser exóticos, diferentes. (Por entre a conversa falamos de Fado-Metal, Suecos evoluidos e produtores alemães)
Podes falar-nos um pouco sobre os teus projectos presentes e futuros?
Bem, vou lançar mais um álbum a solo, que espero que saia em Janeiro. Estamos a preparar outro álbum para os Tarântula que possivelmente sairá no fim do próximo ano, até já temos o contrato assinado com uma produtora alemã.
E pronto, já vai dar para avançar com os espectáculos de apresentação e dar mais fôlego para continuar com estes 2 projectos.