Hoje iniciamos um ciclo de entrevistas a muitos guitarristas Portugueses. E nada melhor que começar com o genial José Carlos Matos. Uma das figuras mais conhecidas do nosso pais (quando nos referimos a guitarristas obviamente) Esperamos que desfrutem e que aprendam um pouco mais.
Como começaste no mundo das guitarras?
A guitarra apareceu depois do piano, instrumento o qual comecei a estudar aos 8 anos de idade… e anos mais tarde fui atraído por bandas como os Van Halen, Bon Jovi e Whitesnake que me despertaram para a magia do som da guitarra eléctrica.
Quais são os teus maiores logros?
Penso que o normal será dizer que não estamos no país certo para a oportunidade mágica acontecer… Estar em Los Angeles ou noutro centro mundial da indústria da música seria fundamental para chegar a patamares mais altos, mas sou uma pessoa positiva e gosto de desafios, por isso, acredito que há muita coisa para fazer ainda no nosso país e se puder contribuir para melhorar a cultura portuguesa de alguma forma, será uma das minhas realizações profissionais. Encontrar pessoas no meio com poucos princípios éticos tem sido o único obstáculo negativo nos anos em que tenho estado activo no panorama musical.
Quem são os teus heróis das 6 cordas?
Inevitavelmente, terei que dizer que o Eddie Van Halen foi a pessoa que teve mais impacto na minha vida. Mas os músicos que me influenciaram bastante são o Allan Holdsworth, Pat Metheny, Al Di Meola, John Mclaughlin, Steve Vai, Joe Satriani, Nuno Bettencourt, Ralph Towner, George Benson, Santana, Steve Lukather, Shawn Lane, Paul Gilbert, Vicente Amigo, entre muitos outros…
Podes falar-nos um pouco sobre o teu gear?
Eu uso bastante material conforme vou necessitando de projecto para projecto. Pode variar entre um setup pequeno para ambientes intimistas a uma parede de amplificadores, racks e colunas em palcos grandes onde necessito bastante headroom. Uso principalmente os Mesa Boogie (Triaxis + 2:90, Road King II, colunas RK e Rectifiers com Celestion V30s), tenho Marshalls que uso também há anos (JCM900, Poweramp 9200 com colunas 1960 A e B) e recentemente adquiri material da Laney (VH100R + coluna 4×12″ com V30s e mais 2 colunas 2×12″ com Celestion 80’s para setups estéreo). Tenho usado também muito os pedais da Blackstar ao vivo (HT-Dual e HT-DistX) e um HT5 combo para gravar. Em termos de efeitos ao vivo, uso os pedais YAMAHA UD-Stomp e Magicstomp. Na rack uso o Roland GP-16 e o Alesis Midiverb IV. Tento manter o timbre da guitarra o mais puro possível e adiciono os efeitos apenas para realçar o timbre original e dar algum ambiente.
E as tuas guitarras…quais são?
Em termos de guitarras… a colecção já vai em cerca de 30 e aumenta bastante todos os anos. Consiste numa variedade guitarras com timbres diferentes para aplicações diferentes e tenho muitas YAMAHA Pacificas para usar ao vivo. As guitarras mais importantes variam entre a PRS 513 da 1ª edição com braço em Brazilian Rosewood, EVH Wolfgangs, Steinbergers, Italias, Vintage, Yamahas, Fender, Ovation e os modelos custom que construí para mim próprio nos anos ’90.
Qual delas é a tua preferida?
Eu não consigo dizer qual a minha preferida porque todas elas têm personalidades diferentes mas se tivesse que escolher apenas uma para andar sempre comigo escolheria a PRS 513 pela qualidade, valor, beleza e versatilidade dos timbres. É uma guitarra fora de série, comparável a um violino Stradivarius.
Tens algum patrocínio? Como o conseguiste?
Já trabalho com a YAMAHA desde finais de 2003 onde sou endorser oficial da marca no que toca a guitarras. Mais info:
http://pt.yamaha.com/pt/artists/guitars_basses/jose_carlos_matos/
Sou também endorser oficial das cordas Dean Markley desde 2009, tendo sido contactado pelo próprio dono da companhia… o Sr. Dean Markley. Gostou do meu trabalho e fez-me a proposta o qual aceitei com orgulho. Mais info:
http://deanmarkley.com/EndArtists/JoseCarlosMatos.shtml
Tenho igualmente um apoio muito importante da Mesa Boogie e Line6 Relay Systems com a Castanheira-Sómusica / Paulo Nogueira. Penso que o meu trabalho tem sido notado e as coisas foram acontecendo naturalmente… A minha postura de “parceiro comercial” nas marcas ajudou a solidificar as nossas relações e objectivos em comum… hoje em dia é preciso trabalhar em equipa para atingir o que se pretende.
Se tivesses de escolher única e exclusivamente 3 pedais do teu arsenal quais seriam? Porque?
Se tivesse que me limitar a 3 pedais, seriam sem sombra de dúvidas o TC Electronic Polytune para estar sempre afinado, o Blackstar HT-Dual e o Yamaha UD-Stomp Modulation Delay. Este último é algo de fantástico pois são 8 delays em paralelo e foi desenvolvido em conjunto com o Allan Holdsworth. Com estes pedais ligados à secção power de qualquer amp… toco em qualquer lado!
Que tipo de cordas utilizas? E as palhetas? Usas diferentes afinações?
Uso 3 dimensões diferentes para aplicações específicas. Para guitarras com tremolo ou com timbres mais para rock, uso o tamanho híbrido (0,09-0,46), para guitarras com stoptail e braços mais curtos uso o normal (0,10) e para timbres para Jazz que precise volume constante de corda para corda uso os 0,11-0,52 ou uma variante Jazz 0,11-0,48. Para nylon uso cordas de média a alta tensão e nas acústicas uso 0,12-0,54.
Em termos de palhetas uso a série Jazz III pretas da Jim Dunlop há mais de 15 anos e não consigo usar outra coisa… só pego numa palheta fina para gravar bases rítmicas de acústicas.
Geralmente afino na afinação standard EADGBE a 440Hz mas se for necessário altero conforme os projectos. Costumo compor muita coisa mexendo na 6ª corda e baixando de tom para D, C ou até mais baixo.
Qual é a acção que usas nas tuas guitarras? És muito exigente em relação ao ajuste dos teus instrumentos?
Tento calibrar a guitarra de modo a que esteja confortável para tocar, que consiga fazer bends e que mantenha o sustain da nota. Não uso uma acção excessivamente baixa porque gosto de “lutar” um pouco com o instrumento e manipular cada nota como se fosse especial.
Sou muito exigente no setup dos meus instrumentos pois são as minhas ferramentas de expressão. Detesto guitarras desafinadas e mal calibradas porque com a idade o meu nível de exigência subiu bastante e sinto rapidamente qualquer dissonância derivado de um instrumento mal afinado. Quando se toca com uma banda grande ou pequena orquestra, desenvolve-se uma capacidade auditiva que distingue estas ligeiras alterações de afinação.
Que conselhos podes dar aos guitarristas portugueses para que possam evoluir musicalmente?
O importante será aprender a conhecer o instrumento que se toca, aprender as bases da harmonia, leitura e entendimento rítmico. Uma grande falha que detecto nas pessoas que têm feito o meu Master Class Program consiste em fracos conceitos rítmicos e isso é derivado a tocar “por cima” da bateria ou secção rítmica sem fundamentar groove com a mesma. O metrónomo é imprescindível para estudar e limpar tudo tecnicamente mas após essa absorção, o músico deverá ser capaz de tocar consigo próprio e desenvolver um tempo interno e consistente. Um bom exemplo será bater o pé a tempo e não parar de o fazer enquanto o tema não terminar. Isto é extremamente importante para desenvolver uma boa musicalidade aliado com o domínio da harmonia e capacidade natural para improvisar. Escutar muita música, e aprender com tudo e todos, e com bons músicos é imprescindível… isto ajudará no vocabulário e consequentemente na boa escolha de notas… revelando o que se chama de bom gosto musical.
Escutar os outros na banda é importante para tocar como deve de ser… isso será fundamental também. Aliando isto tudo a uma postura contínua de trabalho, trabalho, trabalho e humildade… tudo se consegue.
Que achas do mercado musical Português? Consideras que existe espaço para os “Guitarristas”?
O nosso mercado é muito pequeno comparado com os outros mercados importantes da música. Vivemos um pouco no nosso universo e é com isso que temos que trabalhar para poder fazer disto uma vida e isso pagar as nossas contas. Se queres que seja sincero… não existe mercado em Portugal para se viver de um projecto dedicado apenas para a guitarra, se exportarmos o conceito para o resto do mundo, as possibilidades são mais realistas, mas… para se fazer algo com expressão e que ganhe notoriedade, temos que “dizer” algo que não foi dito ainda… Nós não estamos no delta do Mississipi a tentar re-inventar o Blues, não estamos em Nova Iorque nos ambientes de Jazz, não inventamos o Hard Rock, e por aí fora… Somos sim um povo Ibérico com raízes latinas, árabes, etc… Somos um povo quente e apaixonado pela vida… temos que passar estas emoções da nossa linhagem genética para a música e esse é o segredo para se brilhar nas comunidades de entusiastas da música instrumental onde a guitarra é Rei. Não será a copiar o que vem de fora mas sim olhar para dentro para criar algo único que não existe lá fora.
Para se sobreviver no nosso mercado basta começar por ser bom músico, bom profissional e ter bom feitio para trabalhar em equipa… os resultados e postura falarão por si. Consegue-se viver da música se aceitarmos trabalhar com muitos artistas, bandas, etc… ser versátil em termos musicais ajuda bastante!
Podes falar-nos um pouco sobre os teus projectos futuros?
Estou no meio de gravações do meu próximo disco chamado “Specs of Light” e será conceptual no seu todo. Está ligado ao espectro de cores e todos os ambientes que interpreto como a sensação de cor correspondente, mas isso será aprofundado oportunamente.
Continuo a trabalhar nos projectos de estrada como Director Musical/Guitarrista e isso tem sido a minha principal actividade enquanto músico no nosso panorama musical. Estou neste momento a trabalhar simultaneamente com o Fernando Pereira (onde sou também o Director Musical) e o Rui Bandeira, preparando as tours de 2011. Em breve também irei preparar uma tour com a Yamaha pelas principais lojas de Portugal onde iremos fazer demos de guitarras novas no mercado.
Mais info sobre JCM:
www.facebook.com/josecarlosmatos
www.youtube.com/JoseCarlosMatos