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Entrevista a João Luzio

Continuando no nosso ciclo de entrevistas temos a oportunidade de falar com o João Luzio. Este jovem Flaviense, de espírito decidido decidiu segurar o estandarte e ir lutar pelos guitarristas portugueses além-fronteiras. Recentemente participou no Yamaha Guitar Hero. O evento, patrocinado pela Yamaha, propõe divulgar novos talentos no panorama musical da Península Ibérica e a sua final decorreu em Madrid. João Luzio competiu com dois outros finalistas espanhóis, apresentando-se em palco com um tema original.

Fala-nos um pouco sobre ti, Como começaste no mundo das guitarras? Quais são os teus maiores logros?

Bem, para dizer a verdade, a minha “história” processou-se por várias etapas. A primeira vez que peguei numa guitarra (clássica na altura) tinha eu 8 anos e o meu pai trouxe-a para casa. E lembro-me não conseguir premir as cordas e ficar frustrado. (risos). A partir daí aprendi com ele umas pequenas melodias com 2 ou 3 acordes que fui tocando ao longo do tempo. Foi mais tarde, por volta dos meus 13 anos, ao vir para Portugal, que comecei a interessar-me mais por Música e finalmente aos 15 comprei a minha primeira guitarra eléctrica. Desde então tenho-me dedicado o máximo possível ao longo da minha vida.

Logros? Bem, apesar de se calhar não encaixar bem na definição, gostava de salientar um em particular que foi o de tomar a decisão consciente de que me queria viver rodeado de Música. Pois ao longo da minha vida, desde que me liguei mais seriamente à guitarra, passei todo o tempo que podia a tocar e a tentar evoluir e a verdade é que tinha de conseguir aliar isso ao resto das minhas actividades, nomeadamente a faculdade, pois sou licenciado em Eng. Civil na FEUP (2003-2009), o que me absorvia bastante.

Abdicava de muita coisa, às vezes demasiada, para estar ligado à guitarra. Mas para te ser franco, não achava que a Música tomaria o lugar que tomou na minha vida. Um lugar no qual preciso realmente de a sentir presente para estar bem comigo. Foi quase como que um processo inconsciente. E a verdade é que quanto mais o tempo passava, menos me via como engenheiro. Até ao ponto em que tive de tomar uma decisão consciente sobre aquilo que queria fazer da minha vida.

Tive também a sorte de conhecer e ter pessoas que me empurraram sempre para eu acreditar em mim e me apoiaram. Basicamente o meu círculo familiar e aqueles a quem gosto de chamar para mim mesmo os meus “irmãos”.

Em que trabalhos estás envolvido neste momento?

Se quiseres estar a par da minha situação profissional, estou neste momento a dar aulas de Guitarra e Baixo na Academia de Música e Ballet Mozart em Chaves, trabalho como parte da equipa com o website de divulgação musical tuguitarras (www.tuguitarras.com) para o qual faço essencialmente vídeo aulas, transcrições e ocasionalmente um artigo ou outro. Estamos juntos em alguns projectos que espero poder realizar no futuro.

Musicalmente, estou envolvido em alguns projectos e ideias de projectos (risos). Apesar de me dedicar essencialmente à Música que escrevo procurando dar concertos e workshops sempre que posso e aparecem, tenho ligação com pequenos projectos de Música ambiente, covers, enfim, o normal. Gostava desde já agradecer também ao pessoal que me acompanha e aceita ser parte dos meus desvarios musicais. Têm sido excelentes pessoas e amigos.
Rui Silva (Guitarra e Teclas); Pedro Castro (Baixo); Fábio Ramos (Bateria).

E eventos públicos no âmbito musical?

Ao longo do tempo tem sido para mim um privilégio poder ter sido convidado progressivamente para participar em eventos ligados à guitarra:

  • 1º Lugar no Coliseu Guitarfest em 2007 na categoria Júnior.
  • Participação no encontro de Guitarristas nas Caldas da Rainha com concerto e workshop (organização de Alexandre Caetano).
  • Participação na colectânea de Guitarristas “Guitars from Nowhere” com o meu tema “7/8 de Lua num pedaço de Infinito”.
  • Recentemente ter sido convidado para concorrer a nível Ibérico com mais 2 Guitarristas no evento Yamaha Guitar Hero IV em Madrid.

Vou tentando envolver-me no que posso.

Recentemente participaste no Yamaha Guitar Hero, que podes dizer-nos sobre esse evento? Qual foi a tua classificação? Conseguiste cumprir os teus objectivos?

O Yamaha Guitar Hero é um evento/concurso organizado pela Yamaha Ibérica que pretende divulgar Músicos tendo como base de referência a marca Yamaha. Basicamente apresentamos um tema que passa por várias fases de selecção até decidirem quem passa à final. Como sabes, fui dia 12 de Março a Madrid e as pessoas da organização foram simplesmente impecáveis comigo, sem sombra de dúvida. Os outros participantes, para além de serem excelentes Músicos, revelaram ser excelentes pessoas e muito acolhedoras. Fizeram-me sentir como em casa. Um grande abraço para eles.

Quanto à classificação, quem ganhou na categoria de Guitarra foi um jovem espanhol Oriól Padros a quem desde já felicito e igualmente ao outro concorrente, Adrián Carrasco.

Em relação aos objectivos, sem dúvida que foram cumpridos. Porque apesar do prémio material que se pode levar nestas ocasiões, a melhor coisa que podemos levar connosco é a experiência de ter vivido um dia de Música e de partilha com pessoas dedicadas e dadas. Este é o verdadeiro prémio. Sinto me grato por ter estas oportunidades.

A pergunta de praxe….Quem é os teus heróis das 6 cordas?

É mesmo da praxe (risos). Não gosto muito dessa pergunta mas vou tentar ser o mais honesto possível e referir-me aos guitarristas que mais marcaram a minha evolução e a minha forma de perspectivar a Música. Gostava de começar por Frank Zappa, que apesar de não ser aquele tipo de Guitarrista virtuoso, agarrou a essência da Música que lhe era natural e explorou-a ao máximo despreocupando-se das tendências. Admiro muito isso. No que se refere à grande fase de evolução do instrumento em si, gostava de destacar Steve Vai, Gonçalo Pereira e Dave Martone. São Músicos dos quais destaco um grande sentido técnico mas também um grande sentido musical e composicional. Depois surgiram novos Guitarristas que foram deixando impressões fantásticas através das suas visões composicionais, adoro por exemplo Allan Holdsworth. Admiro-os todos profundamente. Foram muitos os Músicos dos quais absorvi influências. Mas as que tiveram um impacto mais importante em mim provavelmente foram estes.

Uma influência mais recente seria Ritchie Kotzen. Pois para além de ser um Músico admirável, ele é o perfeito exemplo de que um bom Músico não se mede à quantidade de material que usa.

Mas acredita que o que mais me influencia hoje em dia é ver alguém a tocar Música e ver na cara dele que está realmente a gostar o que faz. Isso é inspirador.

Podes falar-nos um pouco sobre o teu gear?

Sim. Claro. O meu gear é bastante básico. Estou a usar um V3 de 100W da Carvin e uma coluna 2×12 Legacy com V30 também da Carvin.

Quanto a pedais, estou a usar à frente do amplificador um Cry Baby 535Q, um Ross compressor e Tube screamer montados e modificados de raiz pelo Amílcar Soares (mikapedals – http://mikadiy.blogspot.com/2009/09/mika-zen.html) e um BB preamp da Xotic.

Estou também a usar no loop do amp um CE-20 (Chorus) da Boss e um TC Electronics Nova Repeater (Delay). Ah, e claro, o melhor dos meus pedais….o afinador (risos).

Para já não uso mais pedais ao vivo, até porque nem os costumo usar todos, porque não sinto essa necessidade mas também porque não tenho pés para eles. (risos)

E as tuas guitarras…quais são? Qual delas é a tua preferida?

Ora bem, até hoje não me posso gabar de ter tido muitas guitarras. Já toquei em muitas mas tive poucas. Neste momento estou a tocar com uma Yamaha Pacífica 112 que era do meu pai, mas da qual gostei da ressonância natural. Mudei-lhe os carrilhões, calibrei a ponte e a guitarra ao meu gosto e pedi ajuda a um amigo meu, o Rui Silva, entendido na coisa para me ajudar a trocar a electrónica. Os Pickups actuais dessa Guitarra são um set de Dimarzio’s Evolution sendo que o da Ponte é o EVO 2. Antes usava uma Ibanez RGT42, que também foi a minha primeira guitarra mais “a sério” mas que fui acabando por deixar de usar ao vivo por gostar da Yamaha. Também uso ocasionalmente uma Ibanez S de 7 cordas da qual gosto muito do braço mas para ser franco sinto me melhor nas 6 cordas.

Comecei também a usar uma Guitarra “Custom Made” feita pelo Rui Silva. Há algum tempo atrás comprei uma velha guitarra por quase nada porque tinha gostado bastante da tocabilidade do braço. O Rui, que está agora a iniciar uns trabalhos de construção de Guitarras (e deixa-me dizer-te em aparte que acho pessoalmente que está a fazer um trabalho mesmo muito interessante) sugeriu-me fazer um novo corpo de raiz para encaixar o braço lá e achei muito boa ideia. Quem não acharia? (risos). Também tive uma proposta do Rui Luís que trabalha com a Malagoli Pick-ups no Brasil para me fornecer um par de humbuckers RL- Legacy. Tive a Guitarra há pouco tempo e ainda estou a explora-la mas em poucas palavras, fiquei sem palavras (risos). A Guitarra ficou com uma ressonância muito boa e levou me imediatamente a querer gravar algo com ela. Está na minha página um vídeo que gravei com ela e estou já a preparar mais material. Fiquei impressionado.

Tens algum patrocínio? Como o conseguiste?

Para já quem me patrocina é a minha carteira e às vezes andamos em conflito. (risos) Se te referes a material, para dizer a verdade, não. Não tenho qualquer tipo de patrocínio oficial.

Se tivesses de escolher única e exclusivamente 3 pedais do teu arsenal quais seriam e porque?

(Risos!!!) A pergunta não é muito difícil porque não tenho muitos mais do que 3.

Escolheria o Wah, o Tube Screamer e o Delay que referi acima no meu gear. O Wah, porque acho-o uma ferramenta extremamente expressiva. Adoro ouvir um wah e ter a sensação que a Guitarra está prestes a dizer algo. O tube Screamer modificado porque para te ser franco, desde que o tenho é o pedal que tenho usado quase exclusivamente como boost de ganhos para o amplificador. Basicamente para lhe dar aquele cheirinho extra de força na drive. Adoro esse pedal. O Delay simplesmente porque gosto de um pouco de dimensão no som. Sentir que o som se torna mais “profundo”.

Que tipo cordas utilizas? E as palhetas? Usas diferentes afinações?

Uso praticamente apenas cordas da SIT. O meu cordeamento de eleição neste momento é 009-046. Estou a usar 010-046 na minha ibanez e de vez em quando vou comprando um jogo de cordas de outra marca para experimentar.
Uso Palhetas JAZZ III da Jim Dunlop.

Quanto a afinações, é muito raro desafinar guitarras. Porque quando quero obter tonalidades mais graves recorro geralmente à minha guitarra de 7 cordas.

Qual é a acção que usas nas tuas guitarras? És muito exigente em relação ao ajuste dos teus instrumentos?

Vou responder em primeiro à questão da acção. É verdade que gosto de sentir as cordas baixas na guitarra mas gosto de as sentir igualmente suficientemente levantadas para que quando faço bends a corda não fuja por baixo dos dedos. Não tenho medidas certas para fazer isso. Apenas vou ajustando até me sentir confortável.

Quanto ao ajuste geral. Eu diria que depende. Sinceramente, a Guitarra que uso agora (Yamaha Pacifica 112) foi a única com a qual me dei tanto trabalho de ajustes desde que toco. Refiro-me à ponte, carrilhões, acção das cordas. Mas vou ser franco, não sou das pessoas mais cuidadosas com as guitarras. Faço-lhes os set ups quando lhes mudo as cordas, ajusto-as quando necessário mas não sou “maníaco” por limpezas de guitarra. Gosto realmente de poder pegar na guitarra e tocar e no limite sentir que estou a desgastá-la, a usá-la sem medo de a “estragar”. Pois é para isso que serve o instrumento.

Que conselhos podes dar aos guitarristas portugueses para que possam evoluir musicalmente?

Ok. Vou tentar fazer o melhor para responder a esta pergunta.

Um dos aspectos principais é a aprendizagem. E como sabes, sou autodidacta e nunca tive uma aula de Guitarra. E se aprendi algo com isso é que tem aspectos positivos mas também negativos. O aspecto positivo é essencialmente o de virmos a descobrir o instrumento por nós próprios. Investigá-lo até que ele tenha um significado especial para nós. O aspecto negativo, que não deixa de ser grande, são as limitações. Porque temos de aprender tudo sozinho. E estou a falar dum tempo sem Youtube ainda. (risos).

Por isso o primeiro conselho que gostava de deixar aos interessados em aprender guitarra é: procurem ter aulas. Isto vai ser um apoio fantástico se vocês querem evoluir. Torna as coisas mais rápidas e eficientes. E gostava mesmo de salientar a diferença entre as vídeo aulas que hoje em dia se vêm na net e ter aulas “a sério”. É assim, hoje em dia é a coisa mais fácil e barata do mundo sentar-se à frente de um computador e passar horas a ver vídeos, aprender técnicas e sacar licks através das vídeo aulas online. E também não vou mentir. São uma boa ajuda. Mas não há nada que substitua ter aulas, em que estamos com um professor que está a responder exactamente às necessidades de cada um e que está lá para responder a qualquer dúvida que se tenha. A interacção e a aprendizagem de uma aula a sério, nunca poderão ser ultrapassadas por uma vídeo aula, por muito boa que seja. Porque a vídeo aula responde a uma necessidade geral, o professor responde à necessidade específica do aluno.

Outro conselho que gostava de deixar na sequência do que acabei de dizer é: não se deixem enganar! É assim, hoje com o avanço das tecnologias, parece que a aprendizagem de um instrumento se tornou mais fácil. É errado. Apenas se tornou mais acessível. O Trabalho e dedicação que vocês terão de pôr se quiserem tornar-se bons terão de ser os mesmos. É um trabalho que não se consegue de um dia para o outro e que às vezes dá boas dores de cabeça mas aconselho a todos experimentarem porque no final a sensação de sucesso é muito mais significativa e gratificante.

Finalmente, e não menos importante, o último conselho que dou é que não se devem seguir tendências! É extremamente importante irem atrás do que gostam. Não tocarem uma Música ou não aprender uma técnica porque um amigo a sabe mas sim porque vocês gostam do que estão a fazer. Esse é o verdadeiro objectivo da Música, sentirmo-nos bem com o que fazemos. Quer envolva sermos Músicos extremamente versáteis e técnicos ou apenas tocarmos 2 ou 3 acordes. Se nos sentirmos bem a fazê-lo, isso vai reflectir-se na Música.

Que achas do mercado musical Português? Consideras que existe espaço para os “Guitarristas”?

Acho que sinceramente, estamos numa situação complicada. O mercado musical internacional está a ficar muito lotado deixando cada vez menos espaço para novos Músicos e oportunidades. É compreensível mas ao mesmo tempo lamentável, a meu ver, que a Música se tenha banalizado desta forma devido à evolução tecnológica, que é algo que à partida deveria ajudar o desenvolvimento social. É verdade que o mercado Português não está favorável, não acho pessoalmente que o próprio mercado internacional esteja melhor. Espero apenas que a situação se componha e permita novamente valorizar o Trabalho e Esforço que os Músicos põem no seu Trabalho.

Em relação ao lugar dos guitarristas, a pergunta pode ser interpretada de várias formas. Quando se fala em guitarristas para “tocar guitarra”, existe. Porque todos os artistas e músicos precisam de uma banda e a guitarra é muitas vezes parte integrante do grupo, seja para acompanhar um artista, num grupo de animação, de bares, de ambiente ou outro.

Quando se fala em Guitarristas numa perspectiva de carreira a “solo” como guitarrista, a coisa muda de figura. Pois da forma como o mercado está lotado e as tecnologias avançam, torna-se cada vez mais difícil definir-se um lugar e “marcar” uma posição de Guitarrista. Não acho, ou melhor, gosto de pensar que não é impossível. Mas há de requerer muito trabalho e dedicação sem dúvida.

E se alguém quiser entrar em contacto contigo, como o podem fazer?

Neste momento, para qualquer pessoa que queira estar a par das novidades em relação ao meu envolvimento em projectos ou até entrar em contacto comigo, a forma mais fácil de o fazer será através da minha página de Facebook. E já agora, obrigado à Fratermusic por me proporcionar a oportunidade de partilhar estas minhas ideias. É um privilégio. Obrigado.

Contactos:

http://www.facebook.com/people/Joao-Luzio/732522216

http://www.youtube.com/JoaoMGLuzio

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1 thoughts on “Entrevista a João Luzio

  1. Carlos Martins diz:

    Gostei bastante do que li, da simplicidade e realidade das respostas. Muitos guitarristas, principalmente os mais jovens e no início deveriam ler estas palavras. Parabéns e Boa sorte.

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