Era uma Quinta Feira como qualquer outra. Mas encontrava-me cheio de pressa para poder chegar a cidade de Espinho a tempo. Estava perto de viver uma grande experiência musical. Se calhar uma das melhores da minha vida.
Chegado ao auditorio deparei-me com o azar de os bilhetes estarem esgotados. Mas graças ao acaso, houveram algumas desistencias e pude entrar (embora na última fila). Passados 5 minutos entra em palco o grandioso Egberto Gismonti.
Para quem não conhece, este é daqueles homens que não entrou no mundo da Música porque assim quis. Foi a música que o chamou e lhe deu o privilégio de ser músico (porque assim o merecia) Nascido no Rio de Janeiro, numa família bastante musical, começou seus estudos aos cinco anos de idade. Estudou Flauta, Clarinete, Guitarra Clássica e Piano.
A música de Egberto Gismonti abrange uma vasta gama de paletas sonoras, texturas, dialectos musicais e estados de espírito. Pode soar grandiosa ou introspectiva, dramática ou lúdica, nostálgica ou futurista, brasileira ou oriental. As suas composições são concebidas tanto para instrumentos solistas como para orquestras sinfônicas, passando pelos instrumentos étnicos aos teclados electrónicos. Pode-se dizer que não limites com ele…
Entre as principais influências podemos citar Heitor Villa-Lobos, Maurice Ravel, Django Reinhardt, John McLaughlin, Baden Powell, Astor Piazzolla, o folclore nordestino e do centro-oeste brasileiro, a música indígena, a música indiana, etc, etc,etc.
Conheci este virtuoso ha 18-19 anos com a compra de um livro (em que ele é co-autor) chamado “Música transpessoal” onde narra muitas experiências filosóficas e metafísicas. E a música está sempre presente, seja como pano de fundo ou como principal interveniente. Posso dar como exemplo quando Gismonti passou um mês entre os índios Yawaiapiti do Alto Xingú, tendo conhecido o chefe Sapaim. E a comunicação entre Gismonti e os integrantes da tribo se dava principalmente através da linguagem da música.
Também narra varios casos na na India. Um deles é quando vê um caso de levitação de um gurú, enquanto musicos indianos estão numa sessão de improviso.
Um dos seus clássicos é a Dança das Cabeças. Nesse trabalho, internacionalmente elogiado, o virtuosismo guitarrístico de Gismonti aparece em toda a sua plenitude. É interessante notar que Gismonti só começou a tocar seriamente a guitarra em 1968, após muitos anos de estudo sistemático de piano. Em busca de um veículo mais adequado à sua música e à sua técnica, Gismonti migrou, ao longo dos anos, da Guitarra convencional para instrumentos de 8, 10, 12 e 14 cordas. Paralelamente, nunca deixou de ser um virtuoso do Piano.
Ao fim da noite estava atónito de ouvir alguém tão virtuoso em 2 instrumentos tão diferentes. E como recompensa por uma boa espera ao fim do concerto consegui um autógrafo (o meu primeiro livro autografado) 5 minutos de conversa e uma fotografia com um grande músico.