Um Baixo Hofner de 62

Recentemente escrevemos um artigo sobre o comprimento da escala dum baixo (podem ver aqui) e da sua importância na sonoridade. Obviamente tivemos falar dos Baixos de escala curta, que tem sido um bocado esquecidos pelos tradicionais de escala longa, 34”.

Contudo, quando se fala em alguma coisa, ela costuma aparecer, e assim foi! (Falo nisto porque está na moda a Lei da Atracção, com o livro “The Secret”) Nessa semana nos apareceu cá um baixo de escala curta. Mas nem por isso era um baixo qualquer. Tinha de aparecer algo memorável! Um Hofner do ano 62, um modelo bastante conhecido, dado que o Paul McCartney usou durante muitos anos um modelo similar.

Foi uma verdadeira relíquia, mas esta estava num estado calamitoso. Costumo usar muito a expressão «Um pau com cordas»; mas este nem cordas tinha…

Basicamente quando o baixo me deu entrada no atelier julguei que só um milagre salvaria este baixo. Os carrilhões estavam agarrados com fita-cola. 2 Deles nem sequer funcionavam. A pestana tinha desaparecido misteriosamente e a ponte fora dar um passeio a um caixote de lixo qualquer. O verniz original tinha desaparecido com o tempo e fora substituído engenhosamente por camadas de pó e sujidade. A caixa acústica tinha um golpe bastante feio e a electrónica estava uma lástima.

Dada a magnitude do serviço tive de estipular prioridades.

O primeiro passo foi conseguir material de origem ou próprio deste baixo. Não estava interessado em perder a singularidade deste modelo. Por acaso, os baixos Hofner tem umas pontes muito bonitas (esteticamente falando). Não foi difícil encontrar este material. Mas como vinha de além fronteiras, o tempo de espera sempre seria um incómodo.

Com peças antigas que tínhamos em stock, conseguimos recuperar os 2 carrilhões avariados. Fizemos uma bela pestana em osso. Fizemos uma limpeza geral ao baixo, que demorou umas valentes horas de trabalho árduo. O verniz estava tão deteriorado que se fizéssemos muito esforço ao limpar este saia. Estava fora de questão usar algum líquido mais agressivo para limpar o baixo. Não estávamos interessados em destruir o pouco que restava do acabamento.

A escala estava uma lástima. A madeira estava sem vida. Fomos obrigados a tingi-la, aplicar óleo de limão e encerá-la para ganhar um bocado mais de vida.

Remenda-mos a caixa e fechamos o orifício com 3 camadas de laminado de carvalho. Foi pena, dado que queríamos ter usado maple para condizer com a madeira original. Como a ordem era de tentar manter tudo no mais original possível (e o orçamento para a reparação também não nos permitia fazer muito mediatismo) limitamo-nos a fazer um remendo simples do ponto de vista estético. Contudo, até nem ficou muito mau.

A parte electrónica deu-nos que fazer. Eram operações simples, mas quando tudo falha em simultâneo se torna confuso. Ora, quando um interruptor estava funcionar, um cabo do Pickup teimava em brincar com a nossa paciência. Fora o resto dos outros componentes. Os potenciómetros estavam um caos. Um deles nem sequer fazia questão de rodar. No entanto, não estávamos interessados em trocar componentes. Eram peças únicas…

Abrimos os 2 potenciómetros para ver se tinham solução, e com um bocado de sorte conseguimos ressuscitar as 2 peças. Também foi fácil recuperar um dos interruptores. Corrigimos as soldas e remendámos o cabo do Pickup.
Finalmente aplicamos as cordas e fizemos um setup 5 estrelas.

E depois de tantos anos de abandono absoluto conseguimos colocar este baixo a funcionar. Tínhamos operado um milagre. Foi quase como ressuscitar este baixo de entre os mortos. Nós próprios ficamos abismados com o resultado final. Sem ligá-lo ao amplificador tinha um som potente, bastante vivo e encorpado. O seu peso e a sua escala esguia eram uma mais-valia. Tenho a certeza de que o som potente dos seus Pickups fará as delícias da próxima geração de baixistas que irão tocar nele.