Era um dia chuvoso. Encontrava-me a dar aulas de guitarra quando tocou a campainha. Era um amigo que me disse:”Vai à mala do carro”.
Tirei de lá uma aberração. Estava em tão mal estado que me questionei se valeria a pena reparar esta guitarra.
Uns dias depois chamei o dono e decidi indicar-lhe os problemas que a guitarra tinha. Comecei por enumerar as intervenções que deveria levar o espécime.
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A escala tinha descolado do braço, alguém tentou reparar o braço da guitarra, mas estragou mais do que arranjou, dado que limaram os trastes da guitarra até ficarem sem eles.
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Os afinadores estavam totalmente soltos e já tinham desaparecido alguns parafusos.
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A guitarra não trazia Pickguard, nem ponte e faltavam quase todas as peças do trémolo.
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Os pickups vinham pendurados e a electrónica estava um caos (para não dizer que não trazia tampa protectora).
A pergunta que lhe fiz foi:“Achas que valerá a pena reparar esta guitarra? Ela nem sequer marca tem…”
O meu amigo olhou para ela novamente e disse:”Eu arrisco…De certeza que vai correr bem. ”
Disponibilizei então alguns dias para a reparação da guitarra. Começou o meu árduo trabalho:
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Em primeiro lugar tive de descolar a escala do braço, lubrificar o trussrod, raspar a cola antiga e voltar a unir as duas partes.
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Em segundo lugar tive de rectificar a escala. Re-colocar o binding e aplicar os trastes.
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Concertei os afinadores.
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Tinha comprado um Pickguard da Allparts para esta menina, mas tive azar. Os Pickguards originais da SG não coincidiam com este modelo. Tive então de adaptar o que tinha comprado para esta relíquia.
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Fiz um isolamento a electrónica e coloquei a ponte nova.
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Como devia manter o maior número de peças originais, decidi bloquear o trémolo. Faltava muita peça original e seria uma carga dos diabos colocar isto a funcionar. Ficou a trabalhar como um simples Tailpiece.
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Fiz um a tampa para a electrónica, corrigi os potenciómetros e apliquei-lhe as cordas. Ao dia seguinte acabei os retoques e finalizei o setup.
Mais uma vez o meu amigo tinha razão. A guitarra valia mais do que imaginávamos. Com ela desligada, transmitia-nos um som forte, vivo, cheio de harmónicos. O Pickup da ponte não me pareceu nada de especial, mas o do braço era fora de série. A escala ficou impecável, com uma acção baixíssima, sem trastejar e sumamente cómoda…
Mais uma vez me questiono do porquê do ser humano pensar tanto nas prestigiadas marcas como símbolo de qualidade. Reparar esta guitarra ensinou-me uma valiosa lição.
Se não me engano, essa guitarra deve ter sido feita pela Teisco. Estou a recuperar uma que tem exactamente a mesma ponte e nunca a vi em mais guitarras nenhumas que não sejam as da Teisco (que eram vendidas sob uma variedade inacreditável de marcas – a minha é uma Vision).
Boas tb me apareceu uma coisa parecida,gostava somente de a montar mas o vibrato ñ está completo, nem sei mt bem como funciona?!!! A minha é uma melody