Blog, Reparação de Guitarras

Guitarra com Tampo Rachado

Num dia qualquer da semana (de facto não interessa se foi numa segunda ou numa quarta feira, mas para iniciar o artigo fica bonito) Recebo um e-mail com uma sessão fotográfica bastante aterradora. A vítima em questão era uma Washburn Cumberland com o tampo semidestruído.

Não se podia negar que tinha sido um golpe duro que ocasionara tal rachadela!

Ironicamente o golpe foi dado lateralmente, onde ocasionou poucos estragos (ou quase nenhuns).

No sábado a seguir recebo a visita de um casal muito simpático para entregar-me a guitarra. Tivemos uma conversa muito animada, aproximadamente duas horas (onde o tema predominante só podia ser sobre guitarras) e fiquei com um caixote a atravancar a sala de aulas.

Combinámos para o próximo sábado começar os trabalhos enquanto ele fotografava algum dos procedimentos. Lamentavelmente foi nesse fim-de-semana que iniciamos as obras no atelier e deixamos o projecto em stand-by.

Neste tipo de trabalhos gosto de retirar a ponte, pois o acabamento é mais fácil de se dar, para além de ficar muito melhor. Reparamos a fenda com cola, grampos e alguma paciência. Para retirar a ponte, nada mais que calor, humidade e duas espátulas.

Depois desbastamos todo o verniz e a cor antiga da guitarra. Aplicámos uma fita de maple onde faltava madeira e aplicamos tapa-poros quase a conta-gotas. A aplicação de verniz na caixa-de-ressonância é uma arte de “poucos recursos”. Ou seja, quanto menos material aplicarmos, melhor som terá a guitarra, pois o acabamento costuma amortecer a vibração da madeira e por conseguinte “matar o som”.

A seguir aplicamos a cor base “amarela como de costume”. Depois colocámos o vermelho e finalizamos com castanho. Iniciamos o castanho com uma diluição bastante clara e fomos aplicando várias camadas até atingir a cor que desejámos.

Esta é apenas uma dica no meio de centos delas, pois acertar com este tipo de cores não é tão fácil quanto parece. São precisas horas de treino e nunca podemos aplicar a cor logo na guitarra sem antes termos testado num bocado de madeira (da mesma qualidade de preferência).

Finalmente apliquei mais três camadas de verniz (embora devia ter aplicado quatro) e demos o polimento. Para que saibam, tem de se lixar o verniz que vai ficar por baixo da ponte. Acontece frequentemente em guitarras de baixa gama (especialmente clássicas) que as pontes descolem com a força das cordas, e normalmente a culpa é deste pormenor. Aplico três grampos para ficar um trabalho bem feito.

Finalmente instalei um piezo e limpei o sistema electrónico (que ficou repleto de pó da lixagem)  Tentei corrigir a altura das cordas, que estavam um pouco altas e acabamos o serviço.

Olhando novamente para ela, quem pode dizer que esta guitarra partiu?

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3 thoughts on “Guitarra com Tampo Rachado

  1. Enquanto dono desta guitarra e responsável último pela rachadela do tampo, devo confessar que não achei longe de um pequeno milagre aquilo que a Fratermusic conseguiu.
    De facto, mais do que a rachadela em si, havia um desnivelamento do tampo aquando da quebra, bem patente na quarta fotografia (http://www.fratermusic.com/wp-content/uploads/2012/01/Guitarra-com-tampo-rachado-3.jpg) que temi não ser reparável sem a substituição completa do tampo. Não foi fácil, mas de facto o trabalho ficou impecavelmente bem feito. Só saberá que esta guitarra foi reparada quem o souber de antemão e andar deliberadamente à procura dos indícios respectivos.
    No fim, fiquei com uma guitarra igualmente bela se não ainda mais do que o que estava (ficou algo mais escura do que originalmente e com um pickguard que a enche de estilo), com a sonoridade cheia de sempre (que havia sido perdida com o “incidente”) e, igualmente importante, ganhei dois amigos: os amigos da Fratermusic, que partilham a mesma paixão pela música e pelos instrumentos musicais que eu, mas que são incomparavelmente mais habilidosos e dotados para os trabalhos manuais.
    Visitarei a Fratermusic com regularidade e recomendarei os seus serviços sem hesitar (o que já fiz, de resto).
    Boas guitarradas!

    1. Obrigado Rui.
      Palavras como as tuas dão-nos força para continuar a reparar guitarras…

  2. Ora essa!
    Eu confesso, pelo meu lado, que as vossas reparações me dão bastante mais conforto quando vejo a hora de as partir…

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