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Escalopar guitarra

Depois de um diálogo sobre braços escalopados no Foumusica ha coisa de meio ano, decidi que devia abrir este post para esclarecer o que isto é, dado que muita gente não sabe. Vamos falar sobre os mitos em que está envolvido. Os Prós & Contras de esta operação e ouvir as opiniões de quem já experimentou.

Eu na minha opinião apenas tive poucas oportunidades de experimentar braços escalopados (normalmente faço este serviço para poucos trastes nas primeiras 2 cordas, dai a minha opinião ser muito limitada)

Contudo, sabia que um conhecido Luthier/ Reparador de guitarras chamado Dan Erlewine tinha um artigo bastante interessante sobre este tema. Não é uma tradução fiel, mas um resumo:

Escalopar um braço significa remover madeira de entre os trastes para que os dedos nunca toquem a madeira do braço da guitarra. É um trabalho complicado e por isso não recomendado a DIY. Contudo, esperem que este trabalho seja algo caro, já que quase sempre tem de se trocar/nivelar os trastes. Existem braços de substituição já escalopados, o que é uma boa opção para poupar o braço original da guitarra.

Tocar um braço escalopado requer reaprender a tocar a guitarra com um toque mais leve. Se pressionarmos demais, teremos notas desafinadas. Descobri que é fácil aprender a tocar assim. E pela 1ª vez na minha vida senti os dedos relaxados a tocar guitarra. Conseguia tocar mais depressa e com precisão, já que os meus dedos não tinham de lutar contra a madeira do braço. Isto vai contra a ideia de Yngwie Malmsteen, que diz que é mais difícil tocar num braço escalopado, já que este requer acções altas. Não entendo porque ele diz isso.

Já que uma guitarra é um instrumento muito pessoal, os benefícios de um escalopado também são muito subjectivos. Tocando com uma senti os dedos muito relaxados, permitindo-me tocar mais depressa. Os hammer-ons precisam de menos pressão para ter ataque, permitindo-me fazer trills muito rápidos e tocar acordes com hammer-ons. Os pull-offs se tornaram mais fáceis, já que a carne pode ir mais fundo, dando-lhe um carácter mais percussivo. Pode-se tocar pitch bends como nunca podiam ser feitos (pitch bend é quando pressionamos a corda contra o braço, criando o mesmo efeito de um bending lateral) Até se poder fazer bending de acorde inteiros. Não pensem que pode ser recriado com a barra trémolo, ou num braço sem escalopar. A sonoridade é diferente.

Podemos tocar vibratos mais exagerados com muita facilidade, e os bendings se tornam mais fáceis, já que a carne pode segurar melhor a corda. O tapping de 2 mãos também se torna mais fácil. Com um braço escalopado, consegui ter um som mais equilibrado e limpo em todas as cordas, em qualquer posição, provavelmente porque não existe o efeito abafador da madeira.

Não recomendo escalopar uma guitarra vintage ou de grande valor comercial/sentimental. Escalopar fragiliza o braço, e este pode empenar consideravelmente (Se bem que pode ser compensado com o Truss Rod e um refretting completo, feito por um profissional) Pode-se perder os inlays, o que significa que teremos de meter novos. Sendo pontos é fácil, o problema é quando os inlays são grandes e elaborados.

Escalopar um braço não é reversível. O tom da guitarra vai alterar consideravelmente, e quase nunca para melhor (especialmente em acústicas). Se usais cordas 0.11 ou mais grossas, terão de abdicar delas para usar 0.09 e poder usufruir dos benefícios do escalopado. Para além disso um escalopado é caro e não há garantias. Se formos muito brutos a tocar, certamente teremos muitas desafinações, já que carregaremos com muita pressão a corda.


Recentemente um vendedor me disse:” Escalopar um braço não é grande vantagem. Os trastes altos fazem o mesmo.” Simplesmente não é verdade. Já experimentei as duas versões e não é. Posso não ter dito todas as vantagens e desvantagens aqui, mas dará para abrir o apetite.

Espero que se tenham gostado do artigo. Por favor, usem os comentarios para partilhar as vossas experiências.

No caso de precisarem de um escalopado, não hesitem em nos contactar.

17 thoughts on “Escalopar guitarra

  1. ricardo lourenço diz:

    ja vi que o senhor josé pereira é o dan erlewine portugues. pelo menos é o que me parece em todos os posts que tenho visto seus. tenho quase a certeza que ja leu os livros e dvd´s do dan de tras prá frente. pois eu tenho andado a fazer o mesmo, e acredito que seja o melhor luthier do mundo

  2. Viva Ricardo.
    Obrigado pelo seu comentário.
    Sim, já li muito livro e vi muito DVD do nosso amigo Dan Erlewine. Sinceramente é uma pessoa que sabe explicar a materia toda. Obviamente que só a practica nos fará mestres e não apenas a leitura… Contudo é uma grande ajuda!
    Ele não deve ser o melhor luthier do mundo, mas certamente será um grande professor de luthiers.

  3. Tenho uma Fender JAPAN Strato 1984 escalopada, além do braço escalopado tem um set de pick-ups HS-3 Ponte/Braço e DIMARZIO HOT Rail no pick-up do meio, esse trabalho foi feito em 1997 pelo Donisete da LANCER Guitars de São Caetano, na época que ele mexia com essas coisas, e desde então toco com a guitarra e nunca tive problemas.

    Tive uma YJM Signature CandleBlue, que vendi, e fiquei com a Fender modificada, que soa muito melhor. O Instrumento é fantástico, já gravei muitas coisas, fui pra estrada, e nunca me deixou na mão, sou de SP, mas viajei pra várias partes do brasil tocando, inclusive no Sul, Norte e Nordeste, e apesar da mudanças de temperaturas nunca tive de fazer mudanças drásticas de regulagem.
    Tocar com instrumento escalopado requer atenção com entonação, afinação, no meu caso uso cordas 0.9 e algumas vezes 0.10, e é perfeito, recomendo, se vc tem uma guitarra velha que possa fazer uma modificação dessas, mande num bom luthier, que vc não vai se arrepender. Os Bends, Pull Offs, ficam bem mais tranquilos de serem tocados.
    Abraço
    EllyAguiar

    1. Muito obrigado pelo teu comentário…

  4. Luiz Felipe diz:

    Ola gostaria de saber se existe um livro do Dan Erlewine
    em português?
    Ou se tem um similar que possa ser usado para tal finalidade?
    Gostei muito das matérias dele mas existem termos que sã bastante técnicos para mim!
    Desculpem minha ignorância sobre o assunto , é que não sei onde achar mesmo!

    Obrigado!!

    1. De facto na nossa lingua nunca encontrei um livro sobre reparação de guitarras. É possível que exista algum luthier brasileiro que se tenha arriscado a escrever algum, nunca do calibre do Dan Erliwine. Aqui em Portugal desconheço.

      1. Jorge Selas diz:

        Aqui no Brasil temos excelentes luthiers, mas o Ivã Freitas da Music Maker é fantástico, ele fabrica até os captadores e personaliza do jeito que você quiser. Tenho algumas fenders e uma gbson sg, todas antigas, mas as duas que ele fez pra mim não troco por nada, principalmente a escalopada. Obrigado a todos.

        1. admin diz:

          Obrigado nós por partilhar a sua experiência!!!

  5. Felipe Martins diz:

    Tenho uma guitarra escalopada também pelo excelente
    Donizete da LANCER Guitars de São Caetano. É uma Anfinitty (Squier da Fender). Escalope médio no braço inteiro e troca de trastes. A guitarra ficou excelente, é a guitarra que mais usei, pretendo repetir o trabalho em uma Cort com o Donizete.

    Eu curto muito bends e vibratos e me acostumei com a guitarra escalopada… sinto mais vida na guitarra.

    Recente gravei um vídeo totalmente improvisado.

    O vídeo está sem sincronia, mas da pra ver a guitar.

    http://www.youtube.com/watch?v=N1wqKIwXaRo

    Abraço

    1. Muito bom o teu comentário (só espero que não tenha sido para mim que dedicas-te o improviso)
      Um abraço desde Portugal.

  6. wellington pereira diz:

    É verdade recentemente comprei uma jackson escalopada , e nao conseguia afinar d jeito nenhum, o afinador dizia que estava, mas nao parecia isso nem de longe , ai descobri que era a manenira em que eu pressionava as cordas, eu era acostumado a forçar os dedos contra a madeira, isso causava a desafinação, tive que me reeducar e literalmente “pegar mais leve”

    1. Sim…de facto requer uma reeducação do instrumento. Mas dá-nos outras possibilidades que uma escala convencional não pode.

  7. leonardo diz:

    Oi , eu tenho uma tagima menphis de braço , nao escalopada, e agora comprei uma tagima ja2 escalopada , eu me acostumei com a escalopada ,agora é normal sentir um pouco de difilcudad ao retornar para nao escalopada , ouvi boatos sobre isso .. ?

    1. Sim…mas a capacidade do ser humano em se adaptar novamente a anterior será fácil.
      Garanto-lhe!

  8. @Milkar diz:

    “Isto vai contra a ideia de Yngwie Malmsteen, que diz que é mais difícil tocar num braço escalopado, já que este requer acções altas. Não entendo porque ele diz isso.”

    Na verdade a ação alta que o Malmsteen se refere é por conta da sonoridade e não pelo fato da escala estar escalopada,ação alta deixa a corda mais longe do traste produzindo uma maior sustentação,ou seja a ação alta favorece o sustain mas dificulta um pouco a pegada.

    “Se usais cordas 0.11 ou mais grossas, terão de abdicar delas para usar 0.09 e poder usufruir dos benefícios do escalopado.”

    Isso não é verdade.
    O braço da guitarra não é tão fragil assim,mas eu não recomendaria cordas 0.12,ficaria limitado a no maximo 0.11,mas dizer que teria que usar 009 é exagero!
    Os beneficios da 009 seriam ação baixa e melhor tocabilidade,mas isso é independente da guitarra ser escalopada ou não e sim da regulagem.
    Escalopar facilita muito,prefiro ação mais baixa e pegada veloz uso 008 em minha guitarra principal ,mas já usei até 012 e tenho algumas com 010 e 011 (afinada em Bb).

    abçs

  9. Jorge diz:

    Muito bom cara, abriu mais a minha mente, na minha concepção, então, prefiro comprar o instrumento já escalopado do que adaptar o que tenho. Valeu o artigo.

  10. Abraão Souza diz:

    Muito bom ter lido esses comentários. Estou prestes a comprar uma escalopada, uma Tagima J1 e queria esclarecer algumas dúvidas e ouvir a opinião de quem usa ou já usou guitar escalopada. Vlw

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